Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363
Bom Retiro - São Paulo - SP

Casa do Povo
Rua Três Rios, 252
Bom Retiro - São Paulo - SP

A exposição Yona Friedman: Dicionário foi apresentada na Casa do Povo e na Oficina Cultural Oswald de Andrade, do dia 23 de Agosto a 20 de Setembro, de 2014.

São Paulo é uma cidade planejada. O Plano de Avenidas, concebido e implementado parcialmente por Prestes Maia em 1938, definiu seu futuro: uma cidade condenada a crescer ao longo de grandes eixos rodoviários. A Avenida Tiradentes—que atravessa o bairro do Bom Retiro—é uma das vias que fazem parte deste plano automobilístico. Porém, ao mesmo tempo em que São Paulo é uma cidade planejada, também representa o fracasso desse mesmo planejamento.

O trabalho do arquiteto Yona Friedman, que nasceu em 1923 na Hungria, trabalhou em Israel e hoje vive e trabalha na França, parte de um descompasso e traz consigo ferramentas concretas para construir—no caso, a partir de um território urbano infinito—uma cidade flexível e adaptada ao uso de seus habitantes. Sua obra visa pensar uma arquitetura de "não-especialistas", sem planejamento, improvisada e temporária.

O CNEAI trabalha há muitos anos com Yona, e essa cumplicidade foi essencial para a introdução de novos suportes e formatos no corpo da obra do arquiteto, como quadrinhos, cartazes, filmes, animações e um dicionário-mesa, que foi apresentado no contexto da 6a Feira Tijuana de Arte Impressa. Iniciado a partir de uma conversa entre Sylvie Boulanger e Yona Friedman, e com o intuito de facilitar o entendimento de seu trabalho—preocupação constante do arquiteto—esse dicionário transforma conceitos abstratos em pequenos ícones, criando assim um alfabeto figurativo e uma entrada possível no seu universo.

O dicionário se desdobra no espaço de duas maneiras: na primeira, são expostos os cartazes, os desenhos e os vídeos que Yona fez nos últimos anos, e também um texto da curadora da exposição que apresenta o processo de trabalho desenvolvido entre ela e o arquiteto; na segunda, são apresentadas maquetes em escala 1:1 baseadas em desenhos inéditos que Yona criou em cima de fotos enviadas dos espaços à disposição nas duas instituições que recebem a exposição. As estruturas coloridas, de materiais pobres variados, instaladas na Oficina Cultural Oswald de Andrade e na Casa do Povo, podem parecer irrisórias se comparadas a um projeto de uma cidade melhor, mas podem ser disparadores efetivos e ferramentas fundamentais para tal empreitada.

As oficinas coletivas propostas pelo arquiteto para a montagem dessas estruturas ajudam a entender como as mesmas funcionam, já que refletem as improvisações dos grupos que as construíram. Uma vez colocadas no espaço, não pretendem se impor como objetos estáticos, pelo contrário, estão lá para serem manuseadas, utilizadas para brincadeiras e até mesmo para serem replicadas. Essas estruturas nos ajudam a mudar a maneira como percebemos o nosso entorno cotidiano e apontam para novos usos dos espaços em que são instaladas.

Yona tem uma influência direta na forma como pensamos os espaços das respectivas instituições: tanto o saguão e as salas da Oficina Cultural, como os diversos andares da Casa do Povo possuem múltiplas possibilidades de uso, podem se tornar salas de ensaio, salas de aula, sala de exposição, e se transformarem até mesmo para acolher uma feira de arte impressa. Seus espaços podem cumprir várias funções e se adaptar aos desejos de seus usuários e habitantes.

As direções dadas por Yona Friedman foram apropriadas por diversos arquitetos, mas seu poder real se encontra quando caem nas mãos dos não-especialistas, como um convite a desplanejar a cidade de São Paulo.

Curadoria: Sylvie Boulanger, Diretora do CNEAI (Chatou, França)

Realização: Anamauê Casa do Povo CNEAI Oficina Cultural Oswald de Andrade

Construção das maquetes: Frederico Costa Vergueiro (concepção e coordenação), Daniel Lie (coordenação), Ana Druwe (pesquisa de material), Jorge Bassani (convidado). Agradecemos o emprenho dos participantes da oficina: Vivian Bortolotti, Mariana Dantas, Denise Giglio Marina D'Império Lima, Mariana Lorenzi, Ricardo Luis Silva, Benjamin Seroussi e Amanda Vieira.

Apoio: Consulado Geral da França em São Paulo